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terça-feira, 18 de julho de 2017

SOBRE O QUE SE QUER SER

Esse texto pode parecer e ficar meio clichê. Mas a vida é cheia deles, é feita deles.

Recentemente, minha mulher passou a assistir no YouTube a todas as temporadas do MasterChef Brasil. Atualmente ela está na segunda de quatro temporadas. Num dos episódios, após a saída de mais um participante, ele se emociona e chora porque estava deixando pra trás tudo o que envolve a "cozinha", ou a gastronomia, e que seu dia a dia é corrido demais para ele e que sentiria muita falta do que viveu no programa.


Em geral, basta você ler abaixo do nome que aparece na tela, a profissão de cada candidato. No MasterChef concorrem amadores, amantes da culinária, não necessariamente profissionais. Eles tem uma competição específica pra eles. Esses cozinheiros amadores, em sua grande maioria, ou aqueles que dizem abertamente, sonham em mudar de vida a partir da participação deles no programa. E é sobre isso que quero falar hoje.


Minha geração, a "Geração X", foi criada para ter sucesso e ganhar dinheiro. Acredito que todas as outras que me antecederam devam ter tido esse tipo de impulso. E as demais que me sucederão, também vão escutar que é preciso fazer isso ou aquilo para ter sucesso; que precisam ter essa ou aquela profissão para terem dinheiro. E a equação, em geral, não bate. Atualmente, o que mais se vê são pessoas frustradas e cansadas por correr atrás de algo que elas nunca alcançarão porque, na minha opinião, não se alcança essa coisas através de um trabalho que não se gosta.




Eu sou professor. Escolhi ser professor. Como muitos devem saber, não é lá uma profissão recompensadora no sentido financeiro. Mas então, por quê alguém escolhe ter uma profissão que não vai lhe dar o dinheiro tão almejado? Eu poderia estar até hoje, trabalhando num escritório de contabilidade, pois achei que a contabilidade me daria os recursos financeiros que almejava. Mas a repetição de cada dia, de cada rotina, de cada exercício contábil, não me faziam querer mais nada. Somente voltar para casa e dormir era o que eu desejava.


Foi quando eu decidi estudar aquilo que eu sempre gostei de estudar: História. E já no segundo período fui chamado para dar aulas em uma escola. Mas isso é uma outra história.


Quando meu pai ficou sabendo que eu seria professor, disse que eu "iria passar fome o resto da minha vida". O sonho do meu pai era que eu me tornasse o militar que ele jamais conseguiu ser. Hoje eu tenho minha casa própria, ele não.


Fica a pergunta: por que as pessoas demoram tanto para perceber que vivem uma vida infeliz em seus empregos e trabalhos? Por que não descobrem aquilo que querem fazer porque gostam de fazer? Por que insistem em correr em busca de algo que não virá? E se vir, não vai durar o tempo que imaginam que durará.


Antes de efetivamente ser professor, eu lavei pratos e banheiros de restaurante. Fui auxiliar de pedreiro. Vendedor. Office Boy. E uma série de coisas que não são lá muito interessantes. Tenho um ex-aluno que dei aula há 10 anos. Na época em que dei aula para ele, ele já trabalhava como entregador de pizza. Há dez anos ele trabalha na mesma pizzaria e continua entregando minhas pizzas. Por que ele não mudou de vida? Por que ele não procurou melhorar as condições de trabalho dele? São coisas que me pergunto. 


Mesmo tendo feito coisas das quais não gostava, entendi em algum momento, que essas eram coisas que eu precisava realizar para chegar no ponto onde estou hoje. Não penso em fazer outra coisa que não seja lecionar. Mas também não estou "fechado" permanentemente para outras oportunidades de trabalho. Mas enquanto eu for feliz dando aulas, e recebendo o pouco que recebo por elas, não penso em mudar minha carreira. E se em algum momento quiser ou tiver que mudar, quero que seja algo que eu goste de fazer, que me traga alegria, que sua execução não seja apenas algo mecânico e rotineiro. Imagine passar o resto da vida sem ter feito o que gostaria de fazer?

Dificuldades sempre existirão na vida de qualquer um. O que define cada ser humano é o que faz para superar tais dificuldades. É preciso ter certos empregos e funções em momentos em que não é possível escolher. Mas não se deve tirar de vista aquilo que se quer, aquilo que se ama.
O mundo está cheio de advogados, engenheiros, médicos, e tantas outras profissões que "dão dinheiro". O mundo precisa de mais pintores, cantores, músicos, dançarinos,  e gente que faça de coração aquilo que ama.

Inté!

segunda-feira, 10 de julho de 2017

O mundo se desfaz

Já tem um certo tempo que minhas postagens aqui no blog tem se relacionado a um único tema: envelhecer.


De certa forma, toda a minha produção ao longo dos anos (lembrando que esse blog e meu casamento são as coisas mais duradouras da minha vida! Ambos tem dez anos!), foi uma maneira de mostrar como eu via as coisas, primeiro a música, depois o cinema e agora todo o resto que chamam de realidade.

Logo, não posso dizer que não tentei fazer alguma coisa. Coisa essa, aliás, que todo humano tenta na face da terra: ser reconhecido por sua produção, ou produzir alguma coisa pela qual seja reconhecido. O que no fim dá no mesmo.


Mas a pauta de hoje, para mim, é perceber o quanto meu mundo está se desfazendo. Cada dia, a cada notícia que leio, cada personagem que ganhou certo protagonismo na minha vida e que morre, me aumenta a sensação de ver as coisas nas quais sustentei e baseei minha personalidade se desfazendo como pó.


Passei a me dar conta disso no dia em que o Jon Lord, tecladista do Deep Purple, morreu em 2012. Minha mulher – coitada – veio me contar de maneira desavisada que alguém do Deep Purple havia falecido, mas ela não sabia quem era. Quando fui buscar as notícias e vi que era o sujeito que me mostrou como o teclado pode ser coadjuvante e protagonista numa mesma música, e dali pra frente me interessei em tocar teclado também.




A partir dali, cada vez que percebo, estou vendo outro pedaço do meu mundo ir embora. Recentemente, perdi dois amigos que sempre foram minhas fontes e referências sobre música. No velório de um deles, meu irmão, de olhos cheios de lágrimas, vaticinou: “Envelhecer é perder amigos...”. E fiquei com essa frase reverberando na cabeça desde então.


Dia desses, vi uma reportagem sobre a Hebe Camargo. Ao final desta reportagem, lá estava eu aos prantos. Não por causa da saudade que eu sentia da Hebe. Mas do fato de minha vó gostar dela e toda segunda-feira, não importava o que eu quisesse ver, mas nada atrapalhava a vontade da minha vó assistir à Hebe.

Mais grave que só perder referenciais em pessoas, considero estar perdendo minha maneira de ser e estar no mundo. 

Nos últimos anos, certos assuntos que não eram discutidos, que não eram tabus, que não tinham relevância – apesar de merecerem ter – passaram a ser debatidos com mais vigor e constância. Isso não seria um problema se a quebra de certos paradigmas envolvendo esses assuntos não envolvessem a violência de certos discursos e tomadas de posição. Por exemplo: a questão feminista. Eu nem vou encostar meu dedão do pé para dizer alguma coisa sobre esse assunto. Concordo que é de extrema relevância e necessidade; mas daí eu, que nunca me comportei como o escroto que maltrata mulheres, ser malvisto porque sou homem, branco e heterossexual, as coisas vão muito mal.

No campo da sexualidade, também acredito que demos um salto gigantesco, uma vez que a transsexualidade já foi tratada numa série dentro do Fantástico. Mas agora, o que vejo é uma barreira gigante toda vez que eu, que fui criado dentro de um certo molde, onde todo amigo que demonstrava um comportamento culturalmente menos masculino, era chamado de “viadinho”; isso agora é tratado com o status de crime. Eu seri que não é o certo, mas é preciso entender que grandes mudanças internas não se dão da noite para o dia. E eu, mesmo errado, não posso ter todo e qualquer comportamento meu justificado para não ser condenado por uma patrulha que não perdoa quem ainda não se habituou de todo a um novo mundo que lhe surge.




Em outros tempos, daríamos a esse estranhamento que relato, o nome de “choque de gerações”. Isso seria ótimo. Mas não é o meu problema. Sou professor. Lido com a juventude e suas mudanças todo dia.

Meu choque se dá por não conseguir mais entender onde estou vivendo, o que estou fazendo, se o que estou dizendo está certo ou não. E esse choque fica pior quando seus referenciais são perdidos. A despeito da educação machista que eu tive, nunca tratei mal pessoas de sexualidade diferente da minha. A despeito de ter crescido num ambiente familiar que tinha pensamento e posicionamento de esquerda (e não vou nem tentar explicar o que é isso), eu cresci, estudei e tive que começar a pagar contas. Coisas que me fizeram repensar certas atitudes e pensamentos e não ser e pensar determinadas coisas que antes eu julgava serem naturais.

Sendo assim, sigo solitário. Sigo pensando que aos poucos eu vou ficando maluco. Pois, cada vez menos tenho interlocutores. E o que é pior: ironia das ironias, ninguém discorda de mim! Estou certo, mas não tenho mais espaço no mundo das coisas que aí está.

Inté!