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terça-feira, 11 de junho de 2013


DÚVIDA

Eu me tornei uma pessoa que duvida de tudo. Em algum momento da minha vida, que eu mesmo não acredito muito, passei a não aceitar aquilo que me diziam como verdade. Não acredito que a primeira coisa que duvidei foi se a minha mãe era a que havia me criado. Quem poderia me garantir que o útero que me abrigou por 9 meses e 17 horas, era de fato o da mulher que um dia conseguiu, num ataque de fúria acertar um tijolo na minha cabeça. Duvido do amor de mãe. Duvido que as mães amem incondicionalmente seus filhos, mesmo que eles sejam bonzinhos, ou pequenas imitações daquilo que as pessoas creditam que seja o demônio. Aliás, e a propósito, eu não acredito no diabo. Nem em deus. Que fique bem claro!
Eu duvido que eu consiga contar minha história até o final. Até porque, não acredito que alguém vai ficar tanto tempo lendo as coisas que eu escrevo. Inclusive, duvido que alguém ainda perca seu tempo lendo livros e coisas para ler. Por que?
Também não acredito que cheguei num ponto da vida onde tudo me parece falso. Ou melhor, num ponto onde tudo carece de uma explicação melhor. Tudo precisa ser decodificado, tudo precisa ter de responder às dúvidas em seus mínimos detalhes. Mas será que as pessoas são como eu? as pessoas ainda tem dúvidas? Duvido!
Quando me disseram pela primeira vez que a água era composta por duas moléculas de Hidrogênio e uma outra, isolada, sozinha, de Oxigênio, mas que, no entanto, eu não podia ver essas tais moléculas, aquilo não me desceu pela garganta. Não deu para engolir. Que moléculas são essas que existem pelo mundo e formam tantas coisas e no entanto, só conseguimos ver a aglomeração delas?
E quando ouvi que a Terra era redonda? Por favor! Ou você vê uma linha reta e plana no horizonte, ou as imperfeições que essa linha tem com seus morros e montanhas! Como me dizem que a Terra é rotunda como uma laranja? Se até a laranja tem pequenas reentrâncias que não lhe permitem que seja vista totalmente plana quando olhada bem de perto por um microscópio, o mesmo aparelho que dizem que torna possível ver as tais moléculas.
Pois bem. Se eu for contar todas as coisas de que, ou de quem duvido, é que ninguém vai continuar lendo isso aqui mesmo.
Quando minha mãe, aquela que dizia que eu tinha nascido de seu ventre, me mandou comer toda a comida que estava no meu prato, em especial aquela rodela de beterraba que ficou no canto do prato desde o momento em que foi posta nele, e eu perguntei por que deveria comer aquilo que não gosto, ela fez uma pausa, me olhou bem no fundo do olho e disse:
- Porque senão você vai ficar doente.
- Mas a beterraba tem o poder de me curar de todas as doenças?
- Não, mas ela faz bem para a saúde.
- Mas a senhora disse isso sobre o espinafre e mesmo assim eu fiquei doente.
- Mas tem que comer todos os legumes, para ficar protegido.
- Por que os legumes nos protegem das doenças e os outros alimentos não?
- ...
- Responde pra mim mãe!
- Olha só, se você não começar a comer essa beterraba agora, vou enfiá-la pela sua garganta abaixo! Tá me escutando?!
Como se falando daquele jeito, àquela altura, eu conseguisse ficar surdo e não obedecê-la.

É um dos testes mais eficazes para se comprovar o grau de irritabilidade de uma pessoa, ou o tamanho de sua estupidez: a cada coisa que lhe for dita, adicione um “por que?”, logo depois. Um dos espetáculos mais interessantes que se pode assistir. Em geral, dentro desse método que, em crianças até os quatro anos, é considerado normal, quando se é adolescente ou adulto, passa a ser um negócio extremamente irritante para o interlocutor. Por que? Porque, pelo que já consegui observar, poucas pessoas conseguem passar de uns quatro “por que?” dando uma resposta satisfatória. Por que? Porque ninguém consegue encontrar dentro de si explicação para tudo o que está dizendo. Por que? Porque as pessoas, muitas vezes, fundamentam suas opiniões e certezas em coisas que são desconstruídas facilmente. Por que? Porque ninguém pesquisa muito ou consegue estudar muito tempo sobre algo que vai fortalecer sua fé, ou crença, nisso ou naquilo. Por que? Porque no final de tudo, você acaba percebendo que você sabe muito pouco sobre você mesmo, ou sobre as coisas que você acha que sabe, mas caba percebendo que na verdade você conhece muito pouco. Duvida? Pode fazer o teste com quem você quiser. Largue esse texto e vá conversar com alguém e a cada afirmação que esta pessoa fizer, você emenda com um “por que?”.

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