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terça-feira, 25 de agosto de 2015

ARQUEOLOGIA DA SAUDADE: JORGE CABELEIRA E O DIA EM QUE SEREMOS TODOS INÚTEIS


Longe de mim ser saudosista! Eu vivo pregando a plenos pulmões contra essa onda de dizer que em tal ou tal época as coisas era melhores e tal. Me recuso a entrar nisso.

No entanto, ao começar a escrever essas linhas, percebi que estava incitando o mesmo discurso, só que ao contrário. Ou seja, no momento em que rebusco na minha memória bandas que até hoje escuto, mas que o tempo as levou para bem longe, posso estar fazendo a campanha pela volta de um determinado passado, mas um passado de acordo com a minha visão. Não sei se é isso, mas eu sou ótimo em perceber incoerência no meu discurso e o primeiro a fazer a autocrítica.

De qualquer forma, mais uma vez, mais uma segunda e mais uma vez pelas perambulações que faço no youtube, me lembrei de um famoso, mas quase desconhecido disco que o Zé Ramalho gravou com o Lula Côrtes pelos anos de 1975, chamado Paêbiru. Nesse disco, que é uma viagem alucinante pela psicodelia brasileira, tem uma musiquinha que eu adoro. Essa aqui:


Aí lembrei da banda que nos anos 90, mais precisamente em 1997, surgiu para o cenário nacional com a famosa “Carolina”:


E aí, vários filmes passaram pela minha cabeça, fiz voltas para o tempo de quando eu recebi a fitinha K7 com o primeiro disquinho dos caras, produzido pelo Roberto Frejat. Que tinha aquele frescor de novidade de coisas que foram produzidas nos anos 90 por essa terra Brasilis. O mercado fonográfico e radiofônico estava ávido para ter bandas nacionais tocando. O Raimundos era uma unanimidade. O Chico Science morreria em 2 de fevereiro de 97, e o disco deles foi lançado como uma continuação daquilo que vinha de Recife – eles não eram Mangue Beat – mas o Mundo Livre S/A  e a Nação Zumbi já estavam nos seus segundos discos e a Sony, “dona” da Nação investiu na Jorge Cabeleira como um segundo Trunfo. Mas o primeiro disco foi o que deu.

Em 2001 eles lançaram o excelente “Alugam-se asas para o carnaval” que é a síntese correta de uma banda madura. Mas como o disco foi feito com captação de recursos públicos, o dinheiro só deu para a produção e gravação do disco, na hora da divulgação ele acabou e ficou restrito ao nordeste e chegando devagar no sudeste. Eu mesmo lembro de ter comprado o CD numa dessas liquidações de lojas de discos que estavam fechando. Comprei a bolacha por meros R$3,99.


Em 2014, eles editaram um disco reunindo músicas dos dois primeiros discos e mais duas inéditas. Existe a promessa de um DVD.


Mas, no fim, resta somente a saudade de uma banda que mostrou muito pouco, do muito que poderia, mas o mercado é bruto e te engole se você não sabe fazer as coisas direito. Como foi o caso deles.

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