Eu já escrevi há
pouquíssimo tempo que estou ficando velho. Apesar de estar com 37
anos, já antevejo um futuro doloroso no sentido de ver as coisas se
repetindo, tendo que dar sempre as mesmas respostas para as mesmas
perguntas. E talvez aí esteja minha principal amargura em ficar
velho, e minha principal queixa sobre os demais velhos.
A repetição me cansa.
Ver e ouvir as mesmas coisas, depois de um determinado tempo, me dá
nos nervos. Tanto é que me dedico cada vez menos ao cinema, por
achar que as fórmulas dos filmes mudam muito pouco, só mudam os
patrocinadores e o cenário em que a história é contada.
Como a coisa que mais
me impulsiona é a música, também não posso suportar ouvir as
mesmas coisas. E pior: ouvir as mesmas coisas como se nada melhor
tivesse sido feito depois desse ou daquele artista. Recentemente,
“relançaram” a música “Exagerado” do Cazuza. A cada vez que
ela toca no rádio, me contorço. Não é possível que a carência
por um ídolo esteja tão grande que ninguém consiga aceitar o fato
de que ele, Renato Russo, Cássia Eller e tantos outros estão
mortos!
E talvez essa seja
minha maior indignação: a geração que viveu a década de 80, ou
que foi jovem/adolescente durante esse período, vive dizendo que
nunca mais será feita música boa como naquela época. Pessoas com
pouco mais de 40 anos dizendo que a juventude atual só escuta
besteira e que música, em especial o rock, de verdade, foi feito
durante os anos 80.
Ninguém gosta daquela
tia ou daquela vovó chata que vivem a dizer “No meu tempo as
coisas eram muito melhores! Era tudo diferente!”.
Essa foi a geração que também viu a ditadura obrigar diversos
artistas a dar o seu melhor, escrevendo músicas, muitas vezes,
complexas, para poder enganar a censura. Nos anos 80, a censura ainda
existia, mas o que reinava era o clima de bundalelê, afinal, a
ditadura estava nos seus últimos dias.
A
música, como qualquer produção cultural, é produto de um tempo.
Portanto, está atrelada aos fatos de um determinado momento, ao
estado mental das pessoas num determinado instante, num determinado
lugar. Se durante os Anos de Chumbo da Ditadura Civil Militar no
Brasil, artistas como Chico Buarque, Caetano Veloso ou Gilberto Gil,
tiveram de explorar de todas as formas a sua criatividade para
produzir uma música que era combativa e contestadora, pois esse era
o espírito de um grupo de pessoas que não se conformava com a
situação política do Brasil. Nesse mesmo período, também vigorou
a Jovem Guarda que tinha na sua raiz, a juventude e a rebeldia jovem,
mas que poucas vezes, ou quase nenhuma, fez algum tipo de contestação
ao Regime Militar.
Nos
anos 80, o espírito, ou, o estado de espírito da sociedade
brasileira, era outro. Vivia-se os estertores de um Regime que marcou
nossa sociedade de tal forma, que a juventude daquele tempo, que
pouco ou nada teve que combater tal regime, só queria saber da
“festa”, ou do rescaldo que a geração anterior havia feito. Na
minha opinião, a música feita nesse período não é boa, nem é
ruim, é só o produto daquele tempo. Um tempo em que as pessoas
passaram a se questionar que tipo de sociedade queriam dali para
frente, uma vez que as motivações e os desejos eram outros.
Lembrando que estou me referindo somente à música feita no Brasil,
sem mencionar os artistas internacionais, que nada tinham a ver com
nossa realidade.
A
música feita após os anos 80 segue outra linha e outra definição.
Principalmente, se pensarmos na música feita a partir dos anos 2000.
Os jovens que fazem rock (e nesse momento me atrelo a esse estilo
porque é como os velhos se referem “o rock dos anos
80”), são os frutos/filhos
dessa geração oitentista, são meninos e meninas que vivem numa
democracia, que votam, que não precisam se preocupar se sua música
vai ou não ser censurada. Rapidamente falando, se pudermos chamar de
“preocupação”, a preocupação dos músicos e “roqueiros” é falar sobre a vida, é fazer graça daquilo que observam no
cotidiano, até existe o questionamento, a sublevação contra um
certo estado de coisas que poderia ser melhor ou diferente. Mas em
sua grande maioria, as músicas falam sobre a existência num mundo
farto, num mundo onde se ama mais e onde se comemora e se celebra
muito mais.
Portanto,
todo esse argumento acima, é apenas um desabafo e uma maneira de
dizer para os “tiozões” e “tiazonas” que não existe essa de
“No meu tempo as coisas eram muito melhores! Era tudo
diferente!”, as coisas, as
músicas, são como são, produtos de uma sociedade num determinado
tempo, num determinado local. São feitas por pessoas que observam um
cotidiano que pode ser melhor ou pior, dependendo do ponto de vista.
Ou, para encerrar, como diz uma música da banda O Rappa: “O novo
já nasce velho”.
Inté!
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